Esquizofrenia - TARSO INCLUSÃO

O que é Esquizofrenia?

A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico crônico e grave que se caracteriza fundamentalmente por uma perda de contato vital com a realidade, manifestando-se como episódios contínuos ou recorrentes de psicose. Representa uma alteração profunda no modo como a pessoa percebe, pensa e se relaciona com o mundo, impactando de forma significativa múltiplos aspectos da existência, desde relacionamentos sociais até o funcionamento ocupacional.afya+1

Atualmente, afeta mais de 23 milhões de pessoas no mundo, com uma prevalência estimada em 1% da população global. A esquizofrenia é compreendida pelos critérios diagnósticos modernos como DSM-5 e CID-11, que enfatizam as dimensões psicopatológicas da doença em vez de subtipificações.hospitalsantamonica+1

Como Surge: Mecanismos de Desenvolvimento

A esquizofrenia é uma doença multifatorial que resulta da interação complexa entre componentes biológicos, genéticos e ambientais. Nenhum fator isolado é responsável por seu desenvolvimento; em vez disso, múltiplas causas convergem para sua manifestação.revista.unitins+2

Fatores Genéticos

Os fatores genéticos desempenham um papel crucial, com uma herdabilidade estimada em aproximadamente 80%. Isso significa que a predisposição genética aumenta significativamente a vulnerabilidade à doença. A evidência mais clara disso vem de estudos com gêmeos idênticos, que revelam uma concordância de apenas 50% no diagnóstico de esquizofrenia, demonstrando que ter genes idênticos não garante o desenvolvimento da doença.entendendoaesquizofrenia+1

Quando um dos pais sofre de esquizofrenia, a prevalência da doença nos descendentes diretos é de aproximadamente 12%. Pesquisas recentes identificaram genes específicos associados ao transtorno, como SRRM2 e AKAP11, além de variações em genes como COMT (Catecol-O-Metiltransferase) e BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro). Um gene específico chamado SLC39A8, que codifica um transportador de zinco, pode comprometer o desenvolvimento normal do cérebro do adolescente, aumentando significativamente o risco.wikipedia+2

A razão pela qual a genética não é determinante é que alguns desses genes são comuns a outros transtornos mentais, como o transtorno bipolar, sugerindo que doenças psiquiátricas possam ter uma origem genética comum com diferentes manifestações clínicas.entendendoaesquizofrenia

Fatores Ambientais e o Modelo Diátese-Estresse

O modelo diátese-estresse é o que melhor explica como a esquizofrenia surge: uma pessoa com vulnerabilidade biológica específica (diátese), quando ativada por fatores de estresse ambiental, desenvolve sintomas esquizofrênicos. Os fatores ambientais que podem desencadear ou intensificar a doença incluem:msdmanuals+3

Uso de cannabis (maconha): O uso precoce e frequente aumenta significativamente o risco de desenvolvimento da esquizofrenia, especialmente em pessoas geneticamente predispostas. Estudos indicam que usuários de maconha têm até quatro vezes mais chances de desenvolver a doença.spdm
Fatores intra-uterinos: Infecções virais (influenza, rubéola, herpes), desnutrição materna, complicações obstétricas como pré-eclâmpsia e estresse emocional materno durante a gestação.ojs.uel
Fatores pós-natais: Estresse emocional, ambiente familiar não-funcional, traumas na infância, pobreza, condições socioeconômicas adversas e vivência em ambientes urbanos.ojs.uel+1
Outros desencadeadores: Desemprego, rompimento de relacionamentos significativos, ingresso no serviço militar, saída de casa para faculdade e tabagismo.msdmanuals

Estudos emergentes sugerem que eventos ambientais podem iniciar mudanças epigenéticas que influenciam a transcrição gênica e o início da doença.msdmanuals

Neurobiologia: A Hipótese Dopaminérgica

A hipótese dopaminérgica é o modelo neuroquímico mais aceito para explicar os mecanismos cerebrais da esquizofrenia. Esta hipótese postula que a esquizofrenia resulta de uma disfunção no sistema dopaminérgico do cérebro, particularmente um excesso (hiperfunção) de dopamina em determinadas regiões cerebrais.unisepe+1

A dopamina é um neurotransmissor crucial que desempenha múltiplos papéis no comportamento, cognição e experiência de prazer. Na esquizofrenia, observa-se um padrão anômalo: existe hiperfunção dopaminérgica na via mesolímbica (responsável pelos sintomas positivos como delírios e alucinações), enquanto simultaneamente ocorre uma disfunção dopaminérgica com baixa atividade na via mesocortical (associada aos sintomas negativos).scielo+2

Pesquisas utilizando neuroimagem demonstraram que pacientes com esquizofrenia liberam maiores quantidades de dopamina na fenda sináptica comparado com indivíduos saudáveis, e este aumento correlaciona-se com o surgimento de sintomas psicóticos. Recentemente, cientistas obtiveram a primeira evidência de que a dopamina é um fator causador da esquizofrenia, não apenas uma ligação correlacional.cnnbrasil+1

Alterações Estruturais Cerebrais

Alterações morfológicas e funcionais significativas ocorrem no cérebro de pessoas com esquizofrenia. As áreas mais consistentemente afetadas incluem:scielo+2

Redução volumétrica no córtex temporal medial (hipocampo, giro para-hipocampal e amígdala)
Córtex pré-frontal reduzido, com hipofrontalidade (redução da atividade metabólica nesta região)
Aumentos dos ventrículos cerebrais
Afinamento do córtex em várias regiões
Redução de volume nos núcleos da base e tálamo

Esses deficits estruturais produzem um padrão cerebral anômalo denominado hipofrontalidade, que está associado aos sintomas negativos da doença.rmmg

Principais Características

Os sintomas da esquizofrenia podem ser agrupados em quatro dimensões principais, cada uma refletindo diferentes aspectos da patologia:spdm+1

Sintomas Positivos (Produtivos)

Os sintomas positivos envolvem distorções da realidade e são adições à experiência normal:afya

Alucinações: Percepções sensoriais na ausência de estímulos externos reais. As alucinações auditivas são as mais comuns, com prevalência estimada entre 40-80%, frequentemente manifesto como ouvir vozes. Também podem ser visuais, somáticas (cenestésicas), olfatórias ou gustativas, sendo as auditivas as mais responsivas aos antipsicóticos.afya

Delírios: Crenças fixas e inalteráveis, mesmo diante de numerosas evidências contraditórias. Estão presentes em aproximadamente 80% das pessoas com esquizofrenia. Frequentemente giram em torno de temas de perseguição, conspiração ou controle externo.afya

Desorganização do pensamento e fala: A esquizofrenia é fundamentalmente um distúrbio do pensamento. Esta desorganização pode ser inferida através do discurso confuso, com elaboração de frases sem sentido, invenção de palavras (neologismos) e incoerência.spdm+1

Comportamento desorganizado ou catatônico: Ações sem propósito aparente, postura imóvel prolongada, agitação psicomotora ou comportamentos bizarros.spdm

Sintomas Negativos (Deficitários)

Os sintomas negativos refletem a perda ou diminuição de capacidades mentais e emocionais normais:msdmanuals+1

Embotamento afetivo: O rosto se mostra imóvel com pouco contato visual e falta de expressividade. A pessoa apresenta redução drástica na capacidade de expressar e experienciar emoções.msdmanuals

Alogia (pobreza da fala): O paciente fala pouco e oferece respostas breves e lacônicas às perguntas, transmitindo a impressão de vazio interno.msdmanuals

Avolição (falta de motivação): Há redução severa da motivação e ausência de desejo para atividades direcionadas a objetivos. A pessoa demonstra falta de iniciativa e interesse em realizar tarefas.translate.google+1

Anedonia: Falta completa de interesse e prazer nas atividades, com aumento de atividades sem propósito.msdmanuals

Isolamento social e associabilidade reduzida: A pessoa retrai-se de relacionamentos e demonstra falta de interesse em interações sociais.afya+1

Sintomas Cognitivos

A esquizofrenia produz um déficit cognitivo generalizado:scielo

Comprometimento da atenção e da concentração
Prejuízo na memória, particularmente em testes de aprendizagem e memória incidental
Redução da capacidade de raciocínio conceitual complexo
Dificuldades na resolução de problemas e tomada de decisões
Deficits em velocidade psicomotora e habilidades perceptuais
Perda da capacidade de abstração
Dificuldade de compreender informações e usá-las em decisões cotidianas
Falta de insight (anosognosia), ou seja, falta de percepção de que estão doentesspdm

Idade de Início e Progressão

A esquizofrenia é bastante rara na infância antes da adolescência. Normalmente tem início entre meados da adolescência até meados dos 30 ou 40 anos, ocorrendo com mais frequência durante os 20 e 30 anos. Os primeiros sintomas podem começar a surgir a partir dos 14 anos, embora o pico de incidência seja entre os 20 e 25 anos.msdmanuals+1

A doença apresenta três fases bem definidas:sanarmed+1

Fase Prodrômica: Sintomas atenuados ou precoces precedem o episódio psicótico franco. A pessoa pode apresentar isolamento social, dificuldade de concentração, mudanças de comportamento e humor.

Fase Aguda: Os sintomas psicóticos ativos emergem e frequentemente são mais intensos. Sem tratamento, um surto pode durar semanas e até vários meses. Durante esta fase, alucinações e delírios são predominantes.drauziovarella.uol

Fase Crônica: Após sair do surto, a pessoa apresenta sintomas residuais. Os períodos sintomáticos podem ser episódicos (com exacerbações e remissões identificáveis) ou contínuos. Os deficits funcionais tendem a piorar progressivamente. Importante ressaltar que a esquizofrenia é uma doença progressiva; sem tratamento, os surtos se tornam cada vez mais frequentes e deixam cada vez mais sintomas residuais, afetando atividades profissionais e sociais de forma cumulativa.sanarmed+1

Impacto na Qualidade de Vida

A esquizofrenia acarreta consequências significativas na vida das pessoas acometidas:spdm

Redução da expectativa de vida em 13 a 15 anos, principalmente por doenças físicas associadas e risco aumentado de suicídio (que é uma causa comum de morte prematura)
Dificuldade em manter emprego e moradia, aumentando vulnerabilidade social
Estigma e discriminação que comprometem relacionamentos, educação e inserção no mercado de trabalho
Aumento do risco de comorbidades como depressão, ansiedade e abuso de substâncias
Custos elevados para pacientes, famílias e sistemas de saúde

A esquizofrenia não tem cura atualmente, mas o tratamento com medicamentos antipsicóticos que bloqueiam receptores D2 de dopamina, associado a terapias psicossociais, pode ajudar significativamente a controlar os sintomas. Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, melhor é o prognóstico da doença.gndi+1